quinta-feira, 14 de abril de 2016

A morte do último romântico

A sete palmos do chão
Na frialdade inorgânica da terra
Repousa o poeta e encerra
O sofrimento do seu coração

Foi poeta e amou na vida
Diz a lápide orvalhada
E uma última flor jogada
É vestígio de uma despedida

A primavera perdeu a cor, as flores murcharam
A poesia perdeu a beleza, as músicas desafinaram
E não mais é ouvido o seu cântico

De amor já morreu tantas vezes extasiado
Agora é oficialmente declarado
Está morto o último romântico.

Eduardo Filho
12/04/2016

domingo, 4 de agosto de 2013

Abraço (Parte 1)


Há pedidas
Despedidas
Despidas
De todo recato

Há despedidas
Pedidas
Convalecidas
De todo ingrato

Amor, pedido
Despedido
Contratado sem prazo
Pedido ao acaso

Caso, coisa, desenrolar
Resumido num traço
Se não sei falar
Como escrever
Este enlaço.

Eduardo Filho
04/08/2013

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Samba da Ingratidão


Não, eu não te quero mal
Mas como diz o velho bordão
Ingratidão mata a afeição
O que você fez foi desleal

Embora isso já não mais me doa
A lembrança ainda magoa
E eu insisto em lembrar

Agora, entre tantos, distraída
Não é paixão reprimida
Mas eu insisto em falar

Se hoje o que és
É mérito da minha mão
Por que pagar com ingratidão
A quem não fez por merecer?

Vai, tua vida vai viver
Vai te espalhar n'outras pessoas
Só não esqueça as coisas boas
Que um dia eu fiz por você.

Eduardo Filho
02/02/2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Quando eu me for


Ainda aqui, preso por mim mesmo
Penso: como será quando eu me for?
Receberei um abraço de despedida
Ou levarei as lágrimas de um perdedor?

Quando eu me for, não por minha vontade
Levarei comigo felicidade e tristeza
A tristeza de ter visto tanta beleza
Que não se faz presente na minha saudade

Mas também levarei um sorriso
Porque existe grande diferença
Entre perder e se livrar
E uma paixão que não compensa
Só faz o coração sangrar

E talvez no momento da partida
Tu me olhes com olhos de arrependida
E eu te direi, sufocando o peito de dor:
- Assim como o sol deixa de brilhar ao se pôr
Não deixe para sentir minha falta
Depois que eu me for.

Eduardo Filho
31/01/2012

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Deixarei


Deixarei-te, mansamente, partir porque em mim tudo está terminado
E não estará mais em meus pensamentos enquanto durmo
Deixarei que morra em mim todo o desejo de te amar incessantemente
Porque esgotou-se em mim a última gota de amor
Tua mão tocará outra mão, tua boca osculará outros lábios
E minhas mãos não tornarão a aquecer os teus seios

Serenamente, deixarei que tente, desesperada, encontrar-me em alguém
Mas o teu corpo não tornará a confundir-se com o meu
Deixarei para que te possuam "mera atriz"
Mas fui eu quem te possuí como ninguém mais possuirá
Porque pude partir inteiro, fazendo de ti metade.

Deixarei para ti, como herança desse amor extinto
As lembranças do amor que um dia foi perfeito
Porque haverá sempre um pouco de mim em ti
Translucidamente, eternizado.

Eduardo Filho
23/11/2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mudança


De que adianta guardar no peito
A lembrança dessa triste paixão
Que lentamente corrói meu coração
Embora seja um amor desfeito?

Inevitavelmente, em sonho eu recordo
Daqueles nossos felizes tempos de outrora
Que como as flores no outono vão embora
E em outra estação, sozinho, eu acordo!

Não obstante tua ausência ainda me doa
Concluo que não és a mesma pessoa
E o tempo do verbo mudou nessa espera

Mudaste brevemente como a maré
Eu não amo mais o que você é
Eu amei quem você era.

Eduardo Filho
16/11/2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Soneto do Amor Eterno


Antes de descansar meu amor no teu peito
O meu amor não era nem sequer amor
Como um botão que ainda não é flor
Como um carinho que ainda não foi feito

Extasiado, o meu amor, e embebido
Do calor do teu corpo que flama
Negou a dor que acompanha quem ama
E fez-se amor, o meu amor embevecido!

Egoísta, rogo baixinho, não te ausentes!
Como ficariam estes versos descontentes
Se distância entre nós é o meu inferno

Anseio que em teu peito meu amor perdure
E que além de infinito enquanto dure
Seja duradouro enquanto for eterno.

Eduardo Filho.
28/09/2011